Pastorais

Em 29/6/2019:
Muita calma nessa hora
O que fazer quando as circunstâncias nos causam medo? Em primeiro lugar, o medo é um sentimento que nos paralisa. Então, a primeira reação diante de algo que o provoca é parar. E é para isso mesmo que ele existe, para sinalizar o risco que corremos, uma situação de perigo, uma ameaça ou mesmo algo que não conhecemos.
Não há como eliminar o medo. Ele acontece em todas as situações em que está em jogo a nossa segurança, a nossa realização, o nosso desempenho, os nossos relacionamentos e até os nossos sonhos, desejos e aspirações.
O medo pode ter vários motivos. Existem medos reais, que são aqueles que oferecem riscos iminentes, e existem os medos adquiridos, que são as fobias. Existem medos que enfermam, como os transtornos do pânico, e medos ocasionais, que logo passam.
A Bíblia revela que Deus disse para não termos medo. Embora não tenhamos como evitar o medo, é possível tratá-lo e até enfrentá-lo. E a melhor maneira de fazer isso é sabermos em quem temos depositado nossa confiança.
Certa vez, Jesus disse para termos medo apenas de quem pode nos tirar a vida e lançá-la no inferno (Lucas 12.5). É claro que se trata de uma figura de linguagem. E quem pode fazer isso? O único que pode fazer isso é Deus, o dono da vida, Senhor da eternidade. Mas Jesus não quer que você tenha medo de Deus, e sim que o acolha e o receba como quem pode te dar coragem para enfrentar todos os demais medos.
Irenio Silveira Chaves
Em 23/6/2019:
Lógica da maldade
A maldade tem em si uma lógica própria. Quando ela se instala, provoca um processo, como uma reação em cadeia, de modo que uma maldade sempre gera mais maldade. A Bíblia tenta nos mostrar isso. O salmista diz que um abismo chama outro abismo (Salmos 42.7). Paulo disse que “os impostores irão de mal a pior” (2 Timóteo 3.13).
Mas, o que é a maldade? Em que ambiente ela se forma? Como se reproduz? Embora pareçam perguntas de programa de TV, elas têm sido feitas por pensadores há muito tempo. Maldade é a qualidade do que é mau, diz o dicionário. Ela é o parente mais próximo da perversidade, da crueldade, da malignidade e da desumanidade. É aquilo que provoca ofensa e que prejudica relações. Calar-se diante do mal já é maldade em si.
O profeta disse que Deus criou o mal (Isaías 45.7). Porém, isso tem mais a ver com as catástrofes e contradições da vida, e não do mal moral. Ele é humano. Para a maldade se instalar, é preciso uma ação consciente. Quem pratica a maldade sabe quais são suas consequências. A Filosofia sempre se perguntou: o homem é mau por natureza ou torna-se mal pela influência do meio? Daí, duas tentativas de respostas: Hobbes achava que o homem é mau por natureza, ele é “o lobo do próprio homem”; já Rousseau achava que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Qual a definição correta? Diria que ambas estão certas, mas que ambas precisam de aprofundamento. Porém, para vencer a maldade, só a graça basta.
Irenio Silveira Chaves
Em 16/6/2019:
Questão de Mérito
A pergunta é de Jesus: “que mérito tem amar a quem nos ama, fazer o bem a quem é bom, emprestar só pra quem sabe que vai devolver?” (Cf. Lucas 6.32-34). Segundo o próprio Jesus, qualquer um é capaz de fazer isso.
Porém, há sete atitudes que Jesus elenca como realmente dignas de elogios e que merecem nossa atenção. São elas:
a) amar os nossos inimigos;
b) fazer o bem sem esperar nada em troca;
c) ser misericordioso;
d) não julgar;
e) não condenar;
f) perdoar e,
g) dar.
Essa lista vem logo depois da questão dos méritos, em Lucas 6.35-38. Trata-se de uma passagem equivalente ao Sermão do Monte. Só que Jesus estava numa planície. E também Jesus estava acompanhado de uma grande multidão.
Durante o Sermão da Planície, Jesus passou ensinos aos seus seguidores em geral, advertindo-os para evitarem atitudes semelhantes à dos ricos e poderosos, que se achavam merecedores de honras.
O resumo desse ensinamento é: “Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles” (Lucas 6.31). Jesus chama pessoas a desenvolverem atitudes concretas de cuidado e encontro com o outro, na perspectiva de uma espiritualidade engajada. De nada adianta uma fé contemplativa e devota sem ações concretas em favor do outro, especialmente se for nosso inimigo.
Irenio Silveira Chaves
Em 9/6/2019: Cuidado pastoral
Quando Jesus perguntou a Pedro se o amava, ele pediu: “cuide dos meus cordeiros” (João 21.15-17). E insistiu nisso três vezes. Ele usou duas palavras gregas para isso: bosque e poimaine – “alimentar” e “apascentar”, respectivamente. São duas atividades essenciais do pastoreio de animais.
A atividade de cuidado com pessoas é representada na Bíblia pela metáfora do pastoreio, como atividade agropastoril mesmo. Jesus se apresentou como o bom pastor (João 10.14) e Paulo disse que Deus capacita pessoas especialmente para exercer a função do pastoreio de pessoas (Efésios 4.11). Nessas duas ocasiões, as palavras gregas empregadas foram poimen e poimenas, que querem dizer literalmente “pastor”, aquele que cuida do rebanho.
O cuidado pastoral envolve duas tarefas básicas que são essenciais para a vida da comunidade da fé: uma, é a da alimentação do rebanho; a outra é a condução do rebanho. Pastorear quer dizer nutrir e dar sentido à maneira como as pessoas seguem a Jesus. A alimentação do rebanho tem a ver com o ensino e com a proclamação da boa notícia do evangelho para o mundo. Já a condução do rebanho tem a ver com a maneira de cuidar das dores, feridas e necessidades das pessoas em sua jornada de vida.
O pastor não é um animador de auditório, um motivador de carreira, um gestor de crises ou mesmo um administrador eclesiástico. Ele é quem cuida de pessoas com palavra e encorajamento em nome de Jesus.
Feliz Dia do Pastor e da Pastora.

Irenio Silveira Chaves Em 2/6/2019:
Santidade Integral
A vida cristã possui em si um chamado à santidade, de ser santo como Deus é santo. Que ideia temos feito de santidade? Para alguns, é alguém com uma vida piedosa. Para outros, uma vida sem pecado. Para outros ainda, uma vida reclusa e ascética. E para outros ainda uma vida moral ilibada. São ideias diferentes, mas que estão bem distantes da santidade divina.
A teologia tradicional nos ensina que a palavra santidade deriva de santo, que quer dizer “separado”. Porém, até isso não condiz com a santidade divina. Para compreendermos bem qual o sentido de santidade ou de ser santo, precisamos começar do princípio: Deus é o modelo de santidade.
Deus é santo porque ele é o que é, não precisa de subterfúgios, disfarces ou mesmo de exercícios e atitudes para mudar sua natureza, sua forma ou sua vontade. O Deus santo se desloca para o lugar do outro movido pelo amor, promove atos de justiça e de bondade, é generoso em abençoar, sempre disposto a acolher o mais vil pecador e de perdoar qualquer ofensa, mesmo aquelas que são dirigidas à sua pessoa. Deus é santo porque ele se doa, ele se envolve com gente como a gente, pisa o chão da nossa história e se importa com o humilde, pobre, vulnerável e sofrido. Nesse quesito, não tem preconceito, não discrimina a ninguém, mas odeia a maldade e combate toda forma de perversidade.
Ser santo é ser como Deus no mundo. Qualquer forma de santidade diferente disso é falsa, é engano.
Irenio Silveira Chaves
Em 26/5/2019:
Quem é você sem suas máscaras?
Uma das histórias mais curiosas da Bíblia a respeito de identidade é a de Moisés, homem que esteve face a face com Deus e que o entendia por sua essência. Certa vez, depois de ter passado por uma das mais impressionantes experiências de encontro com Deus, teve a necessidade de representar simbolicamente o que sentia. Ele havia reconhecido o quanto Deus ama e o quanto estamos distantes de sua graça, ele percebeu o quanto estamos equivocados em sobre o que diz respeito às relações com Deus e o quanto ele nos acolhe e perdoa.
Seu rosto resplandecia cada vez que entrava na presença de Deus, a partir de então. Logo em seguida, descia para falar com o povo. Quando acabava de falar, cobria o rosto e só voltava a descobri-lo quando entrava de novo na presença de Deus. Na verdade, Moisés sentiu a necessidade de cobrir o seu rosto para que ocultasse aquele resplendor que estava sumindo. Este fato é relatado em Êxodo 34.29-35.
Essa atitude de Moisés tem a ver com a maneira como lidamos com nossas aparências. A tentativa de mostrar o que não somos tem a ver com o uso que fazemos de máscaras. As máscaras escondem a nossa identidade e interferem em nossa maneira de ser.
(Do e-book Quem é você?).
Irenio Silveira Chaves

Em 19/5/2019:
Nascer de Novo
Quando a gente abre o noticiário do dia, a impressão que se tem é que a humanidade deu errado. O número de casos de egoísmo, ganância, exploração, violência, desigualdade social, opressão, traição, mentira, farsa, desonestidade, preconceito, intolerância, maldade é enorme. A sensação é de que a humanidade perdeu seu rumo e não há como reencontrar-se.
Jesus foi procurado um dia por uma pessoa de bem que estava preocupada com isso já naquela época. Ele era um homem religioso, respeitado na sociedade como uma autoridade. Ele não fez qualquer pergunta para Jesus, apenas o reconheceu como um mestre que tinha uma palavra de esperança para a humanidade. Para ele, alguém que age assim só pode vir da parte de Deus. Seu nome era Nicodemos.
Foi então que Jesus aproveitou para lhe dizer que “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (João 3.3). Claro que foi uma metáfora, mas que nem Nicodemos nem nós conseguimos alcançar o seu real significado.
Jesus sabe como ninguém que, se não conseguirmos imaginar ou contemplar o Reino de Deus entre nós, não há saída para nossos problemas. O Reino de Deus não combina com a injustiça nem com a mentalidade que domina o mundo. Só há esperança de uma vida mais humana na perspectiva do Reino de Deus. E, para isso, precisamos mudar nossa maneira de ver as coisas. Nascer de novo é mudar a mentalidade sobre o que é ser humano.
Irenio Silveira Chaves

Em 12/5/2019:
A face maternal de Deus
O cuidado amoroso de Deus tem mais a ver com o sentimento materno. Sim, Deus tem uma face feminina, e essa face é maternal. A Bíblia está cheia de metáforas e referências para isso.
A Bíblia se refere ao Espírito Santo como ruah, que é uma palavra feminina. Ela diz para nos deleitarmos em Deus, como um bebê é amamentado (Salmos 37.4). Deus nos acolhe como uma ave protege seus filhotes (Deuteronômio 32.11). Deus zela por quem ama como mulher com dores de parto (Isaías 42.14). Deus nos ama e não nos abandona, como uma mãe faz com seus filhos (Isaías 49.15).
Os primeiros pais da igreja entenderam isso melhor do que nós. Clemente de Alexandria usava metáforas femininas para se referir tanto a Deus como a Jesus como mãe. Para ele, Deus se fazia pai e mãe por causa de seu amor.
Jesus também usou uma metáfora maternal para falar da sua missão. Ele disse que quer reunir pessoas como uma galinha reúne seus pintinhos (Mateus 23.37). E ainda comparou a proximidade com a cruz a uma mãe que dá à luz seu filho e já não se lembra mais das dores de parto (João 16.21).
Santo Agostinho, lembrando o Salmos 63.7, dizia que sua alma cantava de alegria à sombra de suas asas, referindo-se a Deus expressamente como uma mãe que se encarnou entre nós na pessoa de Cristo.
Desejar um feliz Dia das Mães é querer que sejamos acolhidos por um amor tão grande como o de Deus por nós.
Irenio Silveira Chaves

Em 5/5/2019:
Moradas
Quando Jesus disse que “na casa de meu pai há muitas moradas” (João 14.2), ele apontou para várias possibilidades de interpretação, menos a ideia de um imóvel com muitos aposentos, como um “spa” celestial para passarmos a eternidade. Antes, são espaços onde o próprio Deus habita.
A afirmação foi dada em meio às inquietações dos discípulos a respeito dos conflitos enfrentados no seguimento de Jesus, às contradições da nova vida em Cristo e ao temor a respeito do que eles poderiam esperar do futuro.
Jesus começava o seu discurso da despedida. A metáfora usada foi a do retorno à casa do pai, uma grande casa com muitos aposentos. Não se tratava de uma definição literal, mas à ideia de que tem lugar para todos na esfera do cuidado e da ação de Deus.
Isso lembra o conceito que Teresa de Ávila deu para as “moradas”. Para ela, cada alma corresponde a um castelo onde Deus habita. É a nossa individualidade como uma realidade interior, mas também como corporeidade. A morada ou castelo interior é a integridade da pessoa que se abre para uma relação com Deus. Pensando assim, equivale dizer que a morada divina é feita de muitas individualidades, e todas elas comportam a presença divina. Deus habita na totalidade de cada um.
No mesmo discurso de despedida, Jesus deu o itinerário para habitar essas muitas moradas: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada” (João 14.23).
Irenio Silveira Chaves

Em 28/4/2019:
Contentamento
Uma frase constantemente repetida pelos cristãos é aquela que diz: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”, com base numa versão tradicional de Filipenses 4.13. Em geral, ela é dita naquelas situações de fragilidade, de ameaça ou até de autoafirmação.
Já ouvi essa frase em várias ocasiões, pelas mais diversas pessoas. Já ouvi de trabalhadores, diante da notícia do desemprego. Já ouvi de quem passou por uma grande perda, e enfrentava dificuldades para se recuperar. Já ouvi de quem foi ofendido e se sentiu humilhado, sem ter como dar uma resposta a altura. Já ouvi de quem sofreu injustiça, e não tinha como se vingar. E já ouvi até quem fazia planos para seu futuro, mas não tinha condições favoráveis naquele momento.
Essa afirmação comporta muitas situações antagônicas. Pode acontecer de ser dita por atletas cristãos de times adversários antes de entrarem em campo para o mesmo jogo. Pode acontecer de ser dita por presos que cumprem pena por seus crimes. Outro dia mesmo soube de um grupo de traficantes que usava essa frase como grito de guerra antes de partir para suas empreitadas criminosas.
Entretanto, nenhuma dessas situações corresponde ao contexto em que ela foi escrita. Paulo havia colocado toda a sua vida a serviço do evangelho. Por conta disso, já havia passado por bons e maus momentos. E, na ocasião em que a escreveu, Paulo estava preso. Mas nada tirou a sua alegria de seguir a Cristo.
Irenio Silveira Chaves
Em 21/4/2019:
Semana Santa
A semana da Páscoa de Jesus foi marcada por tensões, conflitos e contradições. Se olharmos apenas para o que Jesus enfrentou, diríamos que não foi uma semana nada “santa”.
Ela começou com Jesus ouvindo “Bendito o que vem em nome do Senhor” e terminou com as pessoas gritando “Crucifica-o”. No começo da semana, o povo pedia “Salva-nos, Senhor” e, no final, rejeitaram o Salvador.
Naquela semana, Jesus foi ao templo para orar e só viu a exploração da fé. Ele expulsou os vendilhões do templo, mas teve que enfrentar logo em seguida o ódio dos fariseus. Na mesma semana, Jesus reuniu seus discípulos para um banquete, demonstrou seu amor por eles, mas constatou que um deles o traía. Depois disso, ele foi para o jardim orar com seus discípulos, e os viu dormindo.
Em uma semana, Jesus deixou de ser o desejado para ser o torturado e o crucificado. Aquele que fora visto como alguém especial foi morto e sepultado como um comum. Mas o que faz dessa semana especial é que nenhum desses conflitos, tensões ou contradições foram impedimentos para a obra redentora de Jesus. No final dela, Jesus ressuscitou.
Nossa ideia de “semana santa” precisa ganhar novo sentido. É na figura do ressuscitado que precisamos aprender o que é ter um tempo santo. Em meio aos nossos conflitos, tensões e contradições, o plano de Deus não muda. Não importa o que aconteça, Deus estará conosco até o fim.

Irenio Silveira Chaves
Em 14/4/2019:
Hosana
A palavra que o povo usou para celebrar a chegada de Jesus em sua última visita a Jerusalém foi “Hosana”. Imagine a cena: Jesus montado em um jumento entrando na cidade acompanhado de doze peregrinos empoeirados, com o povo estendendo mantos e folhagens pelo chão para servir de tapete para a comitiva pisar, tudo isso ao som de ruidosas vozes que gritavam: “[...] ‘Hosana ao Filho de Davi!’ ‘Bendito é o que vem em nome do Senhor!’ ‘Hosana nas alturas’” (Mateus 21.9).
Hosana é uma palavra de origem hebraica que quer dizer “Salva-nos, por favor” ou “Salva-nos agora”. É um grito por socorro, que expressa tanto um lamento quanto uma esperança, tanto um grito por socorro como a confiança de que a salvação está próxima.
Todo aquele que grita por salvação expressa um clamor, mas também tem a expectativa de sua libertação. É como o náufrago, em sua última tentativa de sobreviver, que se esforça para manter a sua mão levantada para fora da água, crendo que alguém há de segurá-la.
Jesus disse que “veio para buscar e salvar o que estava perdido” (Lucas 9.10). O domingo que antecede a Páscoa serve para lembrar que, não importa qual seja nossa condição, Jesus veio para nos salvar. É o Domingo de Ramos. Não importa o tamanho da sua dor, Jesus veio para curá-la. Não importa o tamanho da sua perda, Jesus veio para restaurar. Não importa o quanto esteja oprimido, Jesus veio para libertar.
Irenio Silveira Chaves
Em 14/4/2019: Somos salvos de quê?
Quando o apóstolo Paulo escreveu para Timóteo sobre salvação, ele usou a si mesmo como a melhor referência do significado de ser salvo. Somos salvos de quê? Somos salvos de nós mesmos. Ele disse: “[...] Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior” (1 Timóteo 1.15).
Somos salvos de nossa arrogância, de nossa ignorância e de nossa própria condição de perdidos. O contrário disso não passa de uma grande ilusão. Chegamos até a pensar que quem precisa ser salvo é o outro, a quem a gente julga e culpabiliza por coisas que temos vergonha de saber que fazem parte de nossa própria realidade. Mas o perdido sou eu.
Somos arrogantes ao termos a pretensão da autossuficiência, iludidos pela ideia de que somos capazes de ter o controle sobre a nossa vida. Somos ignorantes a respeito de nosso futuro. Não somos capazes sequer de presumir o que o pecado pode fazer com a nossa vida quando ele é consumado. Estamos perdidos porque nos perdemos de nós mesmos e não sabemos fazer o caminho de volta.
Quem precisa de salvação sou eu, incapaz que sou de salvar a mim mesmo. Não há nada que eu possa fazer para me livrar dessa condição de perdido. Todo meu esforço de tentar escapar dessa condição em que me encontro é vão.
É nesse cenário – e tão somente nesse, de impotência, de incompletude, de angústia – que a graça de Jesus me alcança para me apontar o único caminho para a salvação, que é Ele mesmo, meu Salvador.
Irenio Silveira Chaves
Em 7/4/2019:
O que é ser salvo?
Ser salvo é ser liberto do pecado. Essa libertação não é resultado de um esforço humano. Ela é um presente de Deus. Não há dada que possamos fazer para nos livrarmos do pecado. Quem nos livra do pecado é Deus, por seu infinito amor e graça.
O pecado é uma escolha nossa. Ele nasce do desejo de ser do jeito que achamos que é certo, sem se importar com o fato de que há algo além de nós mesmos que completa e explica o sentido de nossa existência.
O fato de o pecado ser uma escolha pessoal nos remete à ideia de que estamos perdidos, porque estamos destituídos dessa relação com o que está para além de nós, que é Deus, sem alternativa. Estamos perdidos de nós mesmos, envoltos em nossas ilusões e enganos. Deus em Cristo veio ao encontro da humanidade perdida, para oferecer a alternativa de acolhermos o seu gesto amoroso de se tornar um de nós, viver como humano para resgatar o humano perdido. Essa acolhida é feita em fé, permitindo que a vida de Cristo tome forma na nossa vida.
Ser salvo é viver a nossa humanidade assumida na pessoa de Cristo. Ela se dá como uma tensão, visto que tem implicações na atualidade e consequências eternas. A vida do humano salvo é vivida no contexto da relação com Deus em Cristo, na esfera do Reino de Deus já presente entre nós, promovendo justiça, paz e alegria, e remete à esperança da glória eterna.
Irenio Silveira Chaves
Em 31/3/2019:
Carga Pesada
A Bíblia usa, em várias partes, a metáfora da carga para se referir às dificuldades enfrentadas na vida, à rotina enfadonha, aos grandes desafios. Viver é como carregar um fardo pesado, e para tanto não possuímos forças suficientes. As cargas envolvem nossas dores, nossos desejos frustrados, a opressão, a injustiça, a escassez de recursos, a culpa.
Levar uma carga tem vários significados. Lembra que a vida nos é entregue, como algo que não nos pertence plenamente, que teremos que apresentá-la ao seu verdadeiro dono ao final. Lembra também que a vida é o próprio fardo, que não é fácil nem simples de ser carregado, exige uma certa habilidade para levá-la ao longo de toda a jornada. E lembra ainda que podemos fazer a escolha de levar esse fardo, que é a vida, com maior leveza ou com maior enfado, sozinhos ou de forma compartilhada.
Há pessoas que acham que carregam um peso maior do que são capazes de suportar. Há também aquelas que acham que estão sozinhas carregando seus próprios fardos. E há ainda aquelas que carregam sobre si as cargas do mundo.
Isso lembra o mito grego Sísifo, aquele que tentou enganar a própria morte e, por isso, foi condenado a rolar uma pedra morro acima por toda a eternidade.
O salmista propõe uma alternativa para a nossa carga pesada: Lança o teu fardo sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá que o justo seja abalado” (Salmos 55.22).
Irenio Silveira Chaves
Em 24/03/2019:
Fazer o bem
Se há alguma coisa que podemos fazer de significativo como cristãos no mundo é a prática do bem. O cristão pode até vir a ser conhecido por sua doutrina, por seus costumes, por suas tradições e até por sua moral, mas nada será tão relevante e expressivo quanto sua capacidade de fazer o bem.
Jesus andou por toda parte fazendo o bem (Atos 10.38). E, além de fazer o bem, ele fez tudo muito bem (Marcos 7.37). Através da conduta e exemplo de Jesus, podemos ter uma ideia a respeito do que significa fazer o bem. Isso tem a ver com serviço, com compaixão e com missão.
Como serviço, fazer o bem é cuidar das condições de bem-estar das pessoas. Isso tem a ver com justiça, com liberdade e com direitos. Não há como viver bem enquanto não forem superadas as condições que provocam mal-estar.
Como compaixão, fazer o bem é a nossa motivação maior. Só consegue fazer o bem quem é capaz de sentir a dor e a necessidade do outro. Isso tem a ver com o amor. Não há como dizer que ama e ficar indiferente ao sofrimento do outro.
Como missão, fazer o bem é sinalizar o Reino de Deus entre os homens. Devemos fazer o bem por que Deus nos fez o maior bem, que foi nos salvar por amor. Pessoas que fazem o bem são instrumentos de Deus na Terra. Não há como afirmar a fé em Deus em meio à maldade.
Nossos louvores, orações e pregação não podem tanto como fazer o bem. O que dizer mais, então? Faça o bem. E ponto.
Irenio Silveira Chaves
Em 17/03/2019:
O amor é a resposta
Jesus desafiou a amar aos inimigos, aos que nos ofendem e aos que nos perseguem. Difícil tarefa. Olhando assim, para Jesus o amor não é um sentimento nem uma escolha, mas uma exigência. Isso porque a alternativa do não amor é uma tragédia.
Não amar é que é uma escolha. Não amar tem a ver com um sentimento de orgulho, de autossuficiência, de achar que não se precisa do outro. Não amar é fechar-se em si mesmo e negar o valor do outro para a nossa realização pessoal. O não amor é ódio. Pessoas que não amam seguem o imperativo do egoísmo, da inveja, do ressentimento e da ganância. Não amar é negar a própria condição de pessoa, visto que só existimos na medida em que nos abrimos para o outro. Não amar esvazia o sujeito de sua própria humanidade.
Quando Jesus nos desafia a amar, ele não está pensando num mundo romântico, piegas, melífluo. Ele está nos propondo pensar num mundo mais humano, onde haja mais tolerância, respeito e dignidade, visto que o amor só se realiza onde há justiça, compaixão, misericórdia, comunhão e solidariedade. Viver é amar, e sem amor todos morremos.
Por isso que o amor lança fora todo medo, porque ele restaura o que há de melhor e mais humano em nós. O ódio nos aprisiona a um círculo vicioso de maldades, mas o amor nos liberta de uma vida sem sentido. O ódio gera amargura, mas o amor cura. O ódio suscita contendas, mas o amor é a resposta.
Irenio Silveira Chaves
Em 10/3/2019:
Crer é também celebrar
Através da leitura das Escrituras, encontramos um Deus que gosta muito mais de festa do que de lamento. O salmista declarou que a alegria sempre vem pela manhã, mesmo depois de uma noite de pranto (Salmos 30.5). O profeta se apresentou como aquele que é anunciador de um novo tempo em que o choro será substituído pela alegria e o espírito angustiado por vestes alegres (Isaías 61.3). Os anjos anunciaram notícias de grande alegria para todo povo (Lucas 2.10). Jesus ressaltou o sentido da festa depois da perda (Lucas 15) e prometeu que a alegria jamais será tirada daqueles que o seguem (João 16.22). Não foi por acaso que o ministério de Jesus começou durante uma festa de casamento e foi consumado na crucificação durante a festa da Páscoa.
Compreender esse lado celebrativo da fé rompe com os paradigmas da crença formal, servil e manipuladora que acabaram distorcendo a essência da mensagem de Jesus. Seguir o evangelho e ter Jesus como Senhor da vida não significa viver num vale de lágrimas, como queriam os medievais. Mas também não é motivo para ficar rindo de fratura exposta, por exemplo. A fé em Jesus substitui o lamento pelo canto, o choro pelo riso, o medo pela esperança. Pela fé, a dor e o sofrimento se convertem em oportunidades de crescimento. A vida se constitui num fluxo constante de busca de superação. A fé subverte a lógica do necessário e encoraja a ir além apesar das contingências. (Extraído do blog Filosofia e Espiritualidade)
Irenio Silveira Chaves
Em 17/2/2019:
Nossos princípios
1) A igreja foi imaginada por Jesus para ser a comunidade daqueles que o têm como Senhor e aplicam seus ensinos na vida. Isso é discipulado.
2) Jesus deu total autoridade aos seus discípulos para cuidarem da igreja, de forma que cada comunidade local é sempre resultado do esforço de seus membros. Isso é comunhão.
3) Jesus sabe que não somos capazes de cuidar da igreja como é necessário. Por isso ele enviou seu Espírito para capacitar, encorajar e orientar seus discípulos a fazerem isso de forma eficiente em relação aos propósitos de Deus. Isso é adoração.
4) Não espere que o outro faça aquilo que você gostaria de ver acontecer na igreja. Se você sonha com algum projeto ou programa, assuma o compromisso de fazer acontecer. Isso se chama ministério.
5) Deus sabe que cada comunidade local tem um potencial e ele sonha em fazer com que seu propósito se concretize a partir da capacidade de cada uma em permitir que isso aconteça. E o propósito de Deus é um só: fazer com que toda criatura viva conforme sua vontade. E ele chama a igreja para se envolver nesse projeto. Isso é missão.
Existimos para:

Discipulado
Comunhão
Adoração
Ministério e
Missão
É isso que move nossa paixão e nos constitui como igreja.
Irenio Silveira Chaves
Em 10/2/2019:
Deus é bom em todo tempo
“Tu és bom, e o que fazes é bom; ensina-me os teus decretos” (Salmos 119.68).
Deus é bom em todo tempo. Essa parece ser uma das muitas frases de efeito que permeiam uma fé ingênua, em que depositamos toda a nossa confiança num Deus paternal ue faz tudo para nos agradar. Mas parece ser também uma daquelas frases que demandam a necessidade de reflexão mais profunda a respeito do que acontece à nossa volta.
A fé ingênua num Deus que é bom em todo tempo é aquela que acredita que Deus está a serviço daqueles a quem ama. Isso não deixa de ser um pouco verdade. Afinal, Deus trabalha o tempo todo para que seu propósito se cumpra na nossa vida. Porém, como um pai amoroso, ele não só quer fazer o que é bom, mas quer também o nosso bem. E isso muitas vezes inclui nos deixar livres para fazer escolhas e suportar suas consequências.
Entretanto, é preciso lembrar que o cuidado de Deus sobre nós envolve o mistério divino, que nos coloca diante da indagação sobre as tensões da vida. Como pode um Deus tão bondoso permitir o que é mau? Como a maldade pode ter lugar num mundo criado com tanto amor e cuidado? Como podemos compreender que o bem e o mal existam num contexto de fé e amor?
Bem, não existem respostas prontas para essas perguntas. A sabedoria está em perceber, em meio a tantas questões, que Deus é bom até naquelas circunstâncias em que tudo parece que vai mal.
Irenio Silveira Chaves

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Estudo Bíblico a Distância - EBaD

Estudo Bíblico a Distância - EBaD
Transmissão em nossa página no Youtube todos os domingos, às 10h.

Leia no blog do pastor Irenio, Filosofia e Espiritualidade: